Uma
parceria de Luiza Leite e Tatiana Podlubny, a Fada Inflada é voltada,
principalmente, para a publicação de livros infantis (como o que deu nome à
editora logo em seu início, em 2007). A editora já publicou títulos comoA fada inflada (edição de autor, 2007), Azulzim (7 Letras e Fada inflada, 2011),
Uns dias (Fada inflada, 2012), Desenhocego (publicado na Revista
Carbono, 2013 e lançado pela Fada inflada, 2014), Coisa eperímetro (Fada inflada, 2014). Atualmente desenvolvem o
jogo Trevo, de peças modulares, que
foi lançado na feira de arte impressa Pão de Forma no Rio de Janeiro, e que participou
do Projeto Múltiplo, realizado no Red Bull Station em São Paulo, ambos no ano
de 2014. Além disso, a editora participa de diversas feiras literárias como a
Miolos, a Tijuana e a Plana.
Azulzim |
Por
ser uma editora independente, a Fada Inflada não obtém capital ou apoio de
instituições e de órgãos públicos, o que lhe dá o privilégio de escolher de
formamais livre o que irá publicar. É por isso também que, além da escolha por
livros infantis, o trabalho da editora pode agir como militância cultural. É o
exemplo do livro-panfleto com os 288 domínios online de Eduardo Cunha agrupados.
288 domínios de Eduardo Cunha |
Em
um mercado influenciado por grandes editoras, é necessário ir para além do que
já é apresentado. É imprescindível aproveitar o trato íntimo de um autor e se
valer disso como algo singular. A dimensão de um produtor independente torna
possível que, associando a ação rápida de publicação aos processos
tradicionais, ele adquira mais habilidade para produzir e oferecer inovações,
ampliações e até produções em curtos espaços de tempo.
Para as pequenas editoras, o grande problema no
processo de intermediação é conseguir colocar os livros que publicam nas
prateleiras das livrarias, pois as grandes raramente concordam em incluí-los em
seus catálogos. Contudo, é exatamente a diversidade das pequenas editoras que
falta hoje no domínio do mercado editorial.
Um
fator de diversidade, por exemplo, é o fato de que durante muito tempo os
conjuntos de imagens que vinham nas páginas dos livros tinham função de
acompanhar as palavras, serviam para tornar o texto mais agradável e suave aos
olhos do leitor. Hoje essa possibilidade se alarga. Em alguns livros da Fada
Inflada, a ausência de palavras dá lugar aos detalhes dos traços, das cores, da
técnica, da espacialidade e da própria materialidade do livro, com um frescor
que faz revigorar o que as palavras já haviam antes manifestado. Neles, todo
recurso passapor um grande processo de reflexão.
Diante de todas as burocracias dentro do ramo
editorial, a Fada Inflada tem uma grande preocupação com o resultado, ou seja,com
opróprio livro, não apenas como produto, mas também como objeto artístico. O
livro se torna uma plataforma de criação, algo que desperta e chama a atenção.
É por isso que a editora vai de encontro às questões vigentes do mercado, que não
estão diretamente preocupadas com a criação e a feitura do objeto-livro.
Na observação de alguns livros do catálogo, e também
dos que foram apresentados durante a palestrana UNIRIO, é justo dizer que os
trabalhosfeitospela editora independente são livros de artista, ou se aproximam
deles, pois são arte em forma de livro. Oobjeto, neste caso, é uma plataforma
para a arte, e por este motivo o conceito de livro pode ser desconstruído, ou
reconstruído.
Durante a fala de Luiza e Tatiana,
pudemos nos remeter a Roger Chartier em seu texto “Dom Quixote na tipografia”, presente
no livro Os desafios da escrita, onde
ele chega à seguinte conclusão:
Se o corpo do livro é o produto do
trabalho feito pelos impressores ou encadernadores, a criação de sua alma não
envolve apenas a invenção do autor. A alma é moldada também pelos tipógrafos,
editores ou revisores, que se encarregam da pontuação, da ortografia ou do lay-out do texto (CHARTIER, 2002, p.38)
Diante desse pensamento
de Chartier, é possível enxergar na Fada Inflada uma preocupação tanto com o
corpo quanto com a alma do livro. E é para moldar a alma que entra a questão
artística.Segundo Ulises Carrión, citado pelas palestrantes
como referência com seu livro Nova arte
de fazer livros, um escritor não escreveria livros exatamente, mas textos.
O livro é um objeto artístico em si.
Assim, podemos entender que a Fada Inflada
funciona através da concordância de ideias,da maleabilidade de projetos, da
autonomia e da capacidade de participar de todo o processo de produção, desde a
escolha dos títulos, passando pela organização da tradução, até a revisão e as
deliberações do projeto gráfico. O trabalho de criação
funciona sempre como uma parceria, o que proporciona aos critérios de seleção
intelectual da editora também um traço bastante afetivo. É essa possibilidade
de contato com outras formas de receber e produzir o livro, como uma dança sem
coreografias, que engendra uma outra dimensão à editora independente. Como
disse George Steiner em seu O silêncio
dos livros, “a maior parte das pessoas não lê livros. Porém, canta e
dança”.
Referências:
CHARTIER, Roger. Os
desafios da escrita. Tradução de Fulvia M. L. Moretto. São Paulo: UNESP,
2002.
Por:
Bruna Christine, Eduardo Tostes e Luciano Pereira
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