quarta-feira, 29 de junho de 2016

Do texto ao livro – Os caminhos da produção editorial


O tratamento profissional de textos na cadeia produtiva do livro

Quando entramos em uma livraria e admiramos, folheamos ou desejamos os livros ali expostos, muitas vezes nos passa despercebido o longo caminho percorrido até aquelas obras estarem prontas para nosso contato. Ao pensarmos este caminho, percebemos todo o valor daquele objeto, para além do conhecimento e informações que constituem o seu conteúdo. A palestra da editora Silvia Rebello, diretora da BR75 Produções, foi um grande passeio pelos caminhos percorridos pelos textos, que ganham vida pelas mãos do autor, passando pelas mãos do editor e por todas as outras mãos que trabalham em conjunto e em sequência para transformá-los em livro.



Silvia, que é formada em Letras e em Design Gráfico, além de ter mestrado e doutorado em linguística pela PUC-Rio, contou para nós, alunos de Letras da UNIRIO, sua experiência profissional no ramo editorial. Por ter começado a trabalhar em uma pequena editora chamada Revan, cujo catálogo apresenta publicações que vão de ficção a ciências sociais, teve participação direta em todas as etapas de produção de um livro. Trabalhou como revisora de textos, coordenadora de produção editorial, editora e gerente de produção editorial, incluindo-se aí uma experiência em gerenciamento editorial com foco digital, até fundar a BR75, onde atua como diretora editorial, o que, segundo as palavras da própria Silvia, “na verdade significa continuar participando ativamente de todos os processos e passando maravilhosas noites sem dormir”.
Citando uma dedicatória de Raquel de Queiroz para seu editor, José Olympio, a palestrante conseguiu resumir os caminhos e esforços envolvidos na criação de um livro:

A gente entrega um monte de papel datilografado, riscado, torturado. Desses cadernos sofridos você faz essa bela e nobre coisa que é o livro, e o reproduz em dezenas de milhares e espalha por esse mundo. Então nos fica essa dúvida: de quem é mais o livro? Seu ou nosso?

Complementado esta declaração, Silvia também compartilha um texto de Gabriel Perissé intitulado “Quem mexeu no meu texto?”, em que o autor faz uma série de descrições da árdua tarefa do revisor, “o último a ler o livro antes da fase de impressão gráfica, quando não há retorno”. A partir daí, Silvia Rebello começou a explicar o processo de produção do livro, utilizando-se de uma detalhada apresentação em PowerPoint. Para ganhar vida, o livro sai da mente do autor, é entregue ao editor e depois vai passar por um tratamento profissional na cadeia produtiva que inclui as seguintes etapas: criação de conteúdo, produção editorial, produção industrial, etapas comerciais.

O processo de revisão

            É na fase da produção editorial que o serviço da revisão será efetivamente realizado. Esse pode acontecer, segundo os moldes da BR75, em diversas etapas. O copidesque é uma etapa em que a preocupação principal é a fluência do texto: trata-se de uma verificação de possíveis dificuldades na leitura. Após o copidesque, vem a revisão tipográfica: verificação dos erros gramaticais e de ortografia. Além destes, também há uma revisão posterior chamada cotejo, que é uma verificação de ausências de formatações (itálicos, negritos, fontes diferentes) durante processos de copiar e colar.
            É esperado que o profissional de revisão goste de leitura e seja conhecedor da norma culta da língua portuguesa. Estas características vão auxiliar em todas as etapas de revisão, inclusive com a fluência do texto. Também é importante que o revisor possua um olhar atento para a estrutura do texto, podendo encontrar rapidamente erros que muitos não notariam. Por isso os leitores com uma pequena dose de TOC, às vezes, podem ser bons profissionais nesta área. Outra característica muito importante é o bom senso. O conhecimento do público a que se destina a obra e o bom relacionamento com o autor são fatores que ajudam a responder a pergunta que todo revisor faz: “até onde eu posso ir?”.
            Em sua palestra, Silvia também tratou de questões que certamente permeiam a cabeça dos alunos do curso de Letras que anseiam entrar para o mercado editorial, como, por exemplo: Como saber se o aluno leva jeito para a coisa? Para quem pensa em se embrenhar pelo mundo editorial, Silvia deixou a dica das principais características de um bom profissional de texto: ser, acima de tudo, um leitor, ser sensível, observador, ter diversos perfis dentro da profissão, ser amante da língua e também uma patrulha da língua, ser humilde e seguro na relação com o autor e com o original, ser curioso, conhecedor das ferramentas de trabalho, amante dos padrões e um zelador da fluência do conteúdo.
Foi proveitoso ouvir as considerações de uma profissional que está há 15 anos no mercado editorial e conhecer com mais proximidade as questões envolvidas nesta área de trabalho. Realmente não é fácil. Por outro lado, pode ser fascinante ter noites maravilhosas sem dormir, mergulhado na missão de produzir e finalizar a tempo uma obra que chegará às mãos de muitos, levando ideias, fantasias, sonhos, imagens e conhecimento.


Por: André Fraga Fernandes, Bruna Villete e Willians Araújo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário