O
tratamento profissional de textos na cadeia produtiva do livro
Quando
entramos em uma livraria e admiramos, folheamos ou desejamos os livros ali
expostos, muitas vezes nos passa despercebido o longo caminho percorrido até
aquelas obras estarem prontas para nosso contato. Ao pensarmos este caminho,
percebemos todo o valor daquele objeto, para além do conhecimento e informações
que constituem o seu conteúdo. A palestra da editora Silvia Rebello, diretora
da BR75 Produções, foi um grande passeio pelos caminhos percorridos pelos
textos, que ganham vida pelas mãos do autor, passando pelas mãos do editor e por
todas as outras mãos que trabalham em conjunto e em sequência para transformá-los
em livro.
Silvia,
que é formada em Letras e em Design Gráfico, além de ter mestrado e doutorado
em linguística pela PUC-Rio, contou para nós, alunos de Letras da UNIRIO, sua
experiência profissional no ramo editorial. Por ter começado a trabalhar em uma
pequena editora chamada Revan, cujo catálogo apresenta publicações que vão de
ficção a ciências sociais, teve participação direta em todas as etapas de
produção de um livro. Trabalhou como revisora de textos, coordenadora de
produção editorial, editora e gerente de produção editorial, incluindo-se aí
uma experiência em gerenciamento editorial com foco digital, até fundar a BR75,
onde atua como diretora editorial, o que, segundo as palavras da própria
Silvia, “na verdade significa continuar participando ativamente de todos os
processos e passando maravilhosas noites sem dormir”.
Citando
uma dedicatória de Raquel de Queiroz para seu editor, José Olympio, a
palestrante conseguiu resumir os caminhos e esforços envolvidos na criação de
um livro:
A gente entrega um monte de papel datilografado,
riscado, torturado. Desses cadernos sofridos você faz essa bela e nobre coisa
que é o livro, e o reproduz em dezenas de milhares e espalha por esse mundo.
Então nos fica essa dúvida: de quem é mais o livro? Seu ou nosso?
Complementado esta declaração, Silvia também
compartilha um texto de Gabriel Perissé intitulado “Quem mexeu no meu texto?”, em
que o autor faz uma série de descrições da árdua tarefa do revisor, “o último a
ler o livro antes da fase de impressão gráfica, quando não há retorno”. A
partir daí, Silvia Rebello começou a explicar o processo de produção do livro,
utilizando-se de uma detalhada apresentação em PowerPoint. Para ganhar vida, o
livro sai da mente do autor, é entregue ao editor e depois vai passar por um
tratamento profissional na cadeia produtiva que inclui as seguintes etapas:
criação de conteúdo, produção editorial, produção industrial, etapas
comerciais.
O processo de revisão
É na fase da produção editorial
que o serviço da revisão será efetivamente realizado. Esse pode acontecer,
segundo os moldes da BR75, em diversas etapas. O copidesque é uma etapa em que a
preocupação principal é a fluência do texto: trata-se de uma verificação de
possíveis dificuldades na leitura. Após o copidesque, vem a revisão tipográfica:
verificação dos erros gramaticais e de ortografia. Além destes, também há uma
revisão posterior chamada cotejo, que é uma verificação de ausências de
formatações (itálicos, negritos, fontes diferentes) durante processos de copiar
e colar.
É esperado que o
profissional de revisão goste de leitura e seja conhecedor da norma culta da
língua portuguesa. Estas características vão auxiliar em todas as etapas de
revisão, inclusive com a fluência do texto. Também é importante que o revisor
possua um olhar atento para a estrutura do texto, podendo encontrar rapidamente
erros que muitos não notariam. Por isso os leitores com uma pequena dose de
TOC, às vezes, podem ser bons profissionais nesta área. Outra característica
muito importante é o bom senso. O conhecimento do público a que se destina a
obra e o bom relacionamento com o autor são fatores que ajudam a responder a
pergunta que todo revisor faz: “até onde eu posso ir?”.
Em sua palestra, Silvia também tratou de questões que
certamente permeiam a cabeça dos alunos do curso de Letras que anseiam entrar
para o mercado editorial, como, por exemplo: Como saber se o aluno leva jeito
para a coisa? Para quem pensa em se embrenhar pelo mundo editorial, Silvia
deixou a dica das principais características de um bom profissional de texto:
ser, acima de tudo, um leitor, ser sensível, observador, ter diversos perfis
dentro da profissão, ser amante da língua e também uma patrulha da língua, ser
humilde e seguro na relação com o autor e com o original, ser curioso,
conhecedor das ferramentas de trabalho, amante dos padrões e um zelador da
fluência do conteúdo.
Foi
proveitoso ouvir as considerações de uma profissional que está há 15 anos no
mercado editorial e conhecer com mais proximidade as questões envolvidas nesta
área de trabalho. Realmente não é fácil. Por outro lado, pode ser fascinante
ter noites maravilhosas sem dormir, mergulhado na missão de produzir e
finalizar a tempo uma obra que chegará às mãos de muitos, levando ideias,
fantasias, sonhos, imagens e conhecimento.
Por: André Fraga
Fernandes, Bruna Villete e Willians Araújo.
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