quarta-feira, 29 de junho de 2016

A Azougue Editorial e o trabalho crítico de pensamento


Sergio Cohn é poeta e fundador da Azougue Editorial. Dirige, desde 1994, a Revista Azougue e, em 2001, criou a editora, que funciona no Rio de Janeiro. O ponto de destaque, porque diferencial, da atuação da Azougue no mercado são os trabalhos de pesquisas próprias para suas publicações. Na visão de Sergio Cohn, “o livro é um dos trabalhos dentre todo o trabalho crítico de pensamento que uma editora deve realizar”, porque “a editora é um espaço de cultura”.


Um exemplo desse trabalho de pensamento que acontece dentro da editora é a coleção Encontros. Os livros da coleção, constituídos de entrevistas com escritores, artistas e intelectuais, são geralmente pesquisados, organizados e preparados pela própria equipe da Azougue.Sergio Cohn destaca a coleção como exemplo porque a organização de cada volume leva o nome de quem conseguiu concretizar o livro, quem teve a ideia e reuniu as entrevistas, ainda que não seja parte do corpo editorial. Isso mostra que a Azougue Editorial se constitui como um espaço de cultura muito amplo e livre.
Coleção Encontos

É nesse espaço que se dá a originalidade de suas publicações. Seus projetos não só partem desse trabalho crítico de pensamento como também parecem propor um pensamento crítico ao leitor, que pode estar diante de livros com um conteúdo mais seleto, porém não menos acessível, tanto no conteúdo quanto no preço.

Políticas públicas para o livro: como cativar um público-leitor se não há debate social?

Outro ponto importante colocado foi o problema do não acessoao livro. Sergio Cohn considera essa uma questão premente, já que, como observam todos os profissionais do livro, as políticas públicas não pensaram na questão do acesso. “Dão bibliotecas, mas isso é enxugar o gelo, porque não dão verba para o crescimento do acervo”, lamenta o editor. E quando há verba,esta é direcionada para aquisição de obras de certas editoras, deixando muitas outras de fora. Para Cohn, não só o Estado não pensa de modo contemporâneo a questão do livro como também a sociedade não sabe lidar com isto: “A construção do público leitor é fundamental para um mercado editorial que o sustente”.
Sergio Cohn comenta as bolsas de produção para escritores. Embora constituam uma tentativa de disseminação da cultura literária no país, elas não são de todo eficiente, já que muitos dos livros nem chegam a ser publicados. Ele acredita que essas políticas não são suficientes para a difusão da literatura no Brasil, criticando a falta de debate sobre o que publicar hoje em dia. O editor também aponta a falta de autonomia na escolha de autores nas escolas.

O destaque da identidade nacional na Azougue

Sergio Cohn fala ainda sobre a questão da identidade da editora, que não é desvinculada de uma preocupação com a identidade do país. Diante dessa preocupação social com o livro e a literatura nacional,a Azougue publicou, em 2012, a caixa Poesia.br, uma antologia de poesia nacional dividida em dez volumes. O problema da identidade nacional é trazido à tona jáno primeiro volume, intitulado Cantos Ameríndios. O volume propõe repensar sobre quem foram os primeiros poetas em nosso país e torna ainda mais rica nossa bibliografia.

Coleção Poesia.br


“Tem uma hora que a gente tem que parar de crescer e ser feliz”

O editor da Azougue destaca que “há uma questão de identidade, não só com o público-leitor, mas também com as livrarias”. Para manter esta identidade diante de todo o trabalho crítico de pensamento, há um certo limite de publicações. Sergio Cohn diz que um mercado saudável aceitaria uma editora que publica dois livros por mês, mas o mercado atual cobra que a editora cresça também em quantidade. A respeito disso, vem a frase de impacto da conversa com Sergio Cohn: “Tem uma hora que a gente tem que parar de crescer e ser feliz”, pois a troca com o leitor requer uma calma que o mercado está abolindo. A identidade é ameaçada a partir do momento em que, para se manter, a editora precisa publicar títulos que não se encaixam em seu catálogo.
Ainda em suas palavras, um dos problemas do mercado editorial no Brasil é a a escassez das livrarias em certas cidades, o que faz com que os livros sejam mais caros. Para isto, as bibliotecas públicas seriam uma alternativa se houvesse o incentivo do público-leitor, já citado anteriormente. Como a digitalização dos livros também prejudica a editora, para Sergio Cohn o grande trabalho de política pública no Brasil hoje não é o autor nem a editora: é a livraria de rua. Será esta uma aposta para fortalecer a cultura do livro?



Por: Carolina Machadoe Luana Pereira Mendes

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