Sergio Cohn é poeta e fundador da
Azougue Editorial. Dirige, desde 1994, a Revista Azougue e, em 2001, criou a
editora, que funciona no Rio de Janeiro. O ponto de destaque, porque diferencial, da atuação da
Azougue no mercado são os trabalhos de pesquisas próprias para suas
publicações. Na visão de Sergio Cohn, “o livro é um dos trabalhos dentre todo o
trabalho crítico de pensamento que uma editora deve realizar”, porque “a
editora é um espaço de cultura”.
Um exemplo desse trabalho de
pensamento que acontece dentro da editora é a coleção Encontros. Os livros da coleção, constituídos de entrevistas com
escritores, artistas e intelectuais, são geralmente pesquisados, organizados e
preparados pela própria equipe da Azougue.Sergio Cohn destaca a coleção
como exemplo porque a organização de cada volume leva o nome de quem conseguiu
concretizar o livro, quem teve a ideia e reuniu as entrevistas, ainda que não
seja parte do corpo editorial. Isso mostra que a Azougue Editorial se constitui
como um espaço de cultura muito amplo e livre.
Coleção Encontos |
É nesse espaço que se dá a
originalidade de suas publicações. Seus projetos não só partem desse trabalho
crítico de pensamento como também parecem propor um pensamento crítico ao
leitor, que pode estar diante de livros com um conteúdo mais seleto, porém não
menos acessível, tanto no conteúdo quanto no preço.
Políticas
públicas para o livro: como cativar um público-leitor se não há debate social?
Outro ponto importante colocado
foi o problema do não acessoao livro. Sergio Cohn considera essa uma questão premente,
já que, como observam todos os profissionais do livro, as políticas públicas
não pensaram na questão do acesso. “Dão bibliotecas, mas isso é enxugar o gelo,
porque não dão verba para o crescimento do acervo”, lamenta o editor. E quando
há verba,esta é direcionada para aquisição de obras de certas editoras,
deixando muitas outras de fora. Para Cohn, não só o Estado não pensa de modo
contemporâneo a questão do livro como também a sociedade não sabe lidar com
isto: “A construção do público leitor é fundamental para um mercado editorial
que o sustente”.
Sergio Cohn comenta as bolsas de
produção para escritores. Embora constituam uma tentativa de disseminação da
cultura literária no país, elas não são de todo eficiente, já que muitos dos
livros nem chegam a ser publicados. Ele acredita que essas políticas não são
suficientes para a difusão da literatura no Brasil, criticando a falta de
debate sobre o que publicar hoje em dia. O editor também aponta a falta de
autonomia na escolha de autores nas escolas.
O destaque da
identidade nacional na Azougue
Sergio Cohn fala ainda sobre a
questão da identidade da editora, que não é desvinculada de uma preocupação com
a identidade do país. Diante dessa preocupação social com o livro e a
literatura nacional,a Azougue publicou, em 2012, a caixa Poesia.br, uma antologia de poesia nacional dividida em dez
volumes. O problema da identidade nacional é trazido à tona jáno primeiro
volume, intitulado Cantos Ameríndios.
O volume propõe repensar sobre quem foram os primeiros poetas em nosso país e
torna ainda mais rica nossa bibliografia.
Coleção Poesia.br |
“Tem uma hora
que a gente tem que parar de crescer e ser feliz”
O editor da Azougue destaca que “há
uma questão de identidade, não só com o público-leitor, mas também com as
livrarias”. Para manter esta identidade diante de todo o trabalho crítico de
pensamento, há um certo limite de publicações. Sergio Cohn diz que um mercado
saudável aceitaria uma editora que publica dois livros por mês, mas o mercado
atual cobra que a editora cresça também em quantidade. A respeito disso, vem a
frase de impacto da conversa com Sergio Cohn: “Tem uma hora que a gente tem que
parar de crescer e ser feliz”, pois a troca com o leitor requer uma calma que o
mercado está abolindo. A identidade é ameaçada a partir do momento em que, para
se manter, a editora precisa publicar títulos que não se encaixam em seu catálogo.
Ainda em suas palavras, um dos
problemas do mercado editorial no Brasil é a a escassez das livrarias em certas
cidades, o que faz com que os livros sejam mais caros. Para isto, as
bibliotecas públicas seriam uma alternativa se houvesse o incentivo do público-leitor,
já citado anteriormente. Como a digitalização dos livros também prejudica a
editora, para Sergio Cohn o grande trabalho de política pública no Brasil hoje
não é o autor nem a editora: é a livraria de rua. Será esta uma aposta para
fortalecer a cultura do livro?
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