quarta-feira, 29 de junho de 2016

Entre a tradição e o mercado: a trajetória da Editora Zahar

O editor Mauro Gaspar, em palestra realizada no dia 20 de abril de 2016, fez uma apresentação sobre a trajetória da Jorge Zahar Editora. A Zahar é uma editora que, embora conte com publicações infantis e de ficção, possui o foco em publicações de educação científica e de ciências humanas e sociais. Parte da palestra foi direcionada para uma exposição das dinâmicas internas no mercado editorial. 

Mauro Gaspar

Mauro é editor, jornalista e tradutor. Idealizou e organizou para a editora Cobogó, com Fred Coelho, a coleção O Livro do Disco, dedicada a livros sobre discos nacionais e estrangeiros. Atualmente, trabalha na editora Zahar.



   
Fundação

Mauro Gaspar iniciou a palestra narrando a história do fundador Jorge Zahar, filho de pai libanês e mãe francesa. Após a vinda da família para o Rio de Janeiro, Jorge Zahar começou a trabalhar com distribuição e importação de livros. Em 1956 fundou a Zahar Editores, que, um ano mais tarde, publicaria seu primeiro livro: a tradução do Manual de Sociologia, de Rumney e Mayer.
Era o início de uma tradição, pois, além de pioneiro, Jorge Zahar tornou-se o maior editor de livros de ciências sociais no Brasil. Há décadas, estudantes universitários e intelectuais brasileiros encontram o nome Zahar na capa de livros que lhes servem como instrumento de trabalho.
O palestrante explicou que nas décadas de 50 e 60 era comum as livrarias no centro da cidade servirem de pontos de encontros para saraus. Segundo Mauro, Jorge Zahar teve a grande ideia de abrir uma livraria perto da faculdade de Ciências Sociais da UFRJ, o que impulsionou suas vendas. Além disso, Zahar percebeu a lacuna de títulos brasileiros nas prateleiras e contratou escritores para criar uma coleção brasileira.
Infelizmente, como eles não entregavam os livros no prazo correto, a coleção acabou não acontecendo. Contudo, as traduções naquela época obtiveram muito sucesso, principalmente as dos livros de psicanálise.

Sobre o processo editorial

O palestrante esclareceu que, na Zahar, a escolha dos livros a serem publicados é feita por um conselho editorial, que discute a relevância da publicação no mercado e sua adequação ao perfil da editora.
Mauro explicou que o processo de produção do livro dura em média dois meses, porque passa por diversas revisões de conteúdo, de gramática, de design, etc. Mas ressaltou que existem exceções, dando como exemplo o livro Destinos da África, que demorou quatro meses em processo devido à tradução, que foi um pouco mais demorada.
Mauro esclareceu que nesse processo existe uma grande preocupação da editora com o plágio de imagens, ou seja, a utilização indevida de fotografias, muitas vezes retiradas da internet pelos designers e colocadas nas capas ou no corpo dos livros, sem as devidas autorizações do fotógrafo ou da pessoa fotografada. Explicou que a Zahar já teve problemas com plágio e por isso eles são enfáticos em não usar imagens de outros nessas condições.  



Mudanças no mercado e selos editoriais

O palestrante falou sobre o impacto das mudanças no mercado editorial. Disse que a Zahar produzia sessenta livros por ano e atualmente, devido à crise, produz apenas quarenta. Mauro Gaspar explicou que, para se manter ou se alçar no mercado, muitas vezes a editora precisa criar linhas diferentes dentro dela. Trata-se da criação de selos, linhas editoriais voltadas para um determinado público com intuito de abrir aquele ramo de mercado.
Nesse sentido, muitas editoras tiveram que abrir um selo infantil para aumentar as suas vendas. A Zahar, inclusive, criou o selo Pequena Zahar. Além desse, eles tiveram que buscar novos caminhos como a edição sobre discos e música um dos novos lançamentos da editora.
 Gaspar ainda citou o exemplo da Editora José Olympio, que se tornou um selo da Ediouro após sua compra pela mesma. Ele disse que essa é cada vez mais a prática das editoras porque, desta forma, elas conseguem criar um selo de livros voltados para a venda, gerando sustentabilidade para que a editora possa lançar livros não comerciais.

Conclusão

A palestra de Mauro Gaspar foi muito esclarecedora quanto à dinâmica de uma editora de médio porte. A história da Zahar, que há mais de meio século vem publicando livros no Brasil, sobrevivendo a diversas crises do mercado, nos ajudou a compreender os desafios da produção editorial.


Por: Antonia de Sousa, Daniela dos Santos e Mery Ellen 

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