quarta-feira, 29 de junho de 2016

A mão que faz o livro


A mão que faz o livro: um panorama sobre a história da produção editorial, as etapas de produção e o mercado atual

Em sua palestra “O negócio do livro”, o coordenador editorial da EdUERJ, Mauro Siqueira, convidado para o encerramento dos encontros com editores, apresentou os caminhos do livro. O cuidado com cada etapa do processo editorial, sua origem e história, bem como sua evolução e transformações através dos séculos,conjugados com o papel do profissional de Letras nesse caminho, foram alguns dos temas abordados.
Mauro Siqueira

Formado em Letras pela UERJ e em Publishing Management pela FGV, entre 2011 e 2012 foi produtor editorial da Ediouro Publicações, onde atuou como assistente editorial. A respeito desse período, relatou fatos peculiares sobre o processo de compra do livro de J.K. Rowling, Morte Súbita, que movimentou e encheu de expectativas o mercado editorial mundial. Em 2013 trabalhou na produção editorial da Editora Fiocruz e desde 2011 é editor da revista cultural RapaDura, que possui versão impressa (semestral) e digital (bimensal).
Mauro também é escritor.Seu primeiro livro de contos, De vermes e outros animais rastejantes, foi publicado pela editora Multifoco em 2008. O palestrante mantém ainda um perfil no Instagram chamado Pequenas Colisões, onde cria pequenas narrativas através de imagens e fragmentos. Siqueira integra, desde 2008, o corpo editorial da EdUERJ, atuando hoje como coordenador interino de produção editorial. Ele é um dos responsáveis pela implantação do EdUERJ Digital, segmento que visa atender a demanda da editora e do mercado por e-books.

EdUERJ

A EdUERJ começou suas atividades em 1994 e hoje, com mais de vinte anos de história, está consolidada como um agente de promoção e divulgação do saber. Sua preocupação com a excelência naqualidade editorial garantiu-lhe o reconhecimento não apenas da comunidade acadêmica, mas também do grande público. O minucioso trabalho com a linguagem e o projeto gráfico que lhe é peculiar já garantiram àEdUERJcinco prêmios. Seu catálogo hoje conta com mais de 330 títulos.
A editora é responsável, também, por importantes publicações voltadas para o debate a respeito da educação, como a "Coleção pesquisa em educação", que reúne trabalhos com enfoque em questões pedagógicas.
Uma das produções mais significativas da editora é a coleção “Ciranda da Poesia”,composta, até o momento, por vinte e oito volumes. Com um panorama de diferentes visões, leituras e tendências críticas, a coleção aponta para uma renovada e ampliada maneira de apreciar a poesia nos dias de hoje. Seus autores/organizadoressão poetas, acadêmicos e críticos contemporâneos. Entre eles, encontramos alguns dos professores da UNIRIO, como Júlia Studart, que se dedica à obra de Nuno Ramos, Manoel Ricardo de Lima, que analisa Aníbal Cristobo, Marcelo Santos, que se foca no trabalho de Afonso Henriques Neto, e Masé Lemos, que se debruça sobre a obra de Marcos Siscar.



O negócio do livro
Mauro Siqueira refez a história do livro desde a antiguidade, passando por Gutenberg e pelo desenvolvimento de técnicas e mídias, até a criação do ISBN e as modalidades mais modernas do fazer editorial.
Através de um panorama da produção dos livros ao longo do tempo, pudemos ver a evolução dos meios de produção e das matérias-primas para a confecção do livro, como, por exemplo, a invenção do papel, que causou a primeira revolução nos conceitos de produção editorial e de livro. Na antiguidade, os suportes disponíveis eram o papiro e posteriormente o pergaminho, sendo o primeiro mais frágil e com durabilidade relativamente menor, pois era obtido a partir de uma planta.O pergaminho era feito a partir do couro de animais e tinha a vantagem de poder ser reutilizadoe ainda costurado, o que fez com que a ideia de livro, enquanto compilação, fosse ganhando forma. Essas foram asbases mais comuns na Europa até o início da Idade Média, quando,através das navegações, o papel chegou da China, que já o havia desenvolvidono início da era cristã.
Até o desenvolvimento das primeiras técnicas deimpressão, através de blocos talhados em madeira e, mais tarde, marcando o início da eramoderna, a tipografia, desenvolvida por Gutenberg, os livros eram produzidos de forma bastante artesanal. Os mosteiros se concentravam como o polo produtor dessematerial por meio dos copistas. Até então, os livros eram peças grandes e bastante valiosas, itens de luxo. Através da invenção de Gutenberg, a produção editorial sofreu umagrande revolução e pôde ser ampliada, alargando o público consumidor. O livro assim começa a sofrer uma série de mudanças, tornando-secada vez mais portátil e barato, até chegaraos livros de bolso.
Sobre o ISBN (International Standard Book Number), Mauro Siqueira explicou que se trata de um sistema de identificação unificado internacionalmente para livros e publicações nãoperiódicas. Esse modelo surgiu no Reino Unido em 1967 como sistema de gerenciamento de obras em uma livraria, mas começou a ser adotado por outros comerciantes e bibliotecas, até que se transformou em norma padrão internacional em 1972. Esse sistema possui todas as informações fundamentais para identificação de uma publicação, não sendo limitado por barreiras linguísticas, o que facilita a circulação e comercialização. Até 2007, contava com dez dígitos, mas com o constante aumento no volume da produção editorial, a partir de então, passou a ter treze.


            As partes de um ISBN indicam grupo (país ou área idiomática), editor (cada casa editorial possui número próprio), item (número da publicação entre as obras publicadas pela editora) e dígito de verificação. Esse número é utilizado no código de barras, precedido pelo EAN (EuropeanArticleNumber), que indica o tipo de indústria. No caso, 978 indica a publicação de livros.
A estrutura de uma editora moderna foi outro aspecto abordado. Há um grande caminho pelo qual passa o texto até que se torne livro. Tudo se inicia com o autor, que faz contato com o editor, seja diretamente ou através de agentes literários. Segue-se, então, o início da cadeia de produção, com o copidesque, as revisões e possíveis adequações técnicas e normativas, a preparação de originais, a diagramação, a arte, a capa, a elaboração de releases, a divulgação (marketing) e finalmente a distribuição para livrarias. Todas as etapas do processo produtivo(editorial) precisam dialogar entre si e se mostram fundamental para o resultado final. Em quase todas essas etapas, a presença do profissional de Letras pode ser encontradano processo de criação da obra.
Por fim, Mauro Siqueira apontou as dificuldades da produção de livros através de uma universidade pública eas limitações dos fomentos governamentais. Ressaltou também  o profissionalismo de todos os envolvidos se reflete no processo e conclusão da obra. Para ilustrar essas questões, comentou a crise política e financeira que vive o estado no momento e como ela vem afetando diretamente a produção. Desta forma, ficou clara a necessidade de uma postura criteriosa por parte do editor ao escolher seus profissionais e os projetos nos quais deseja trabalhar, bem como a responsabilidade daqueles que um dia pretendem dedicar-se ao ramo editorial.


Por: André Franco, Gabriel Ferreira e Vanessa Ribeiro

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